Home O Que Fazemos Clientes Cadastrar Currículo Fundador Contato
       Você está na página: Fundador > Artigos e publicações

Artigos e publicações

Culto da emoção nas organizações

Investimentos tornaram-se cada vez mais arriscados, concorrências mais acirradas e as lutas pelos mercados
cada vez mais desesperadas. Em contraste com tudo isso, o mundo empresarial interno entrou numa fase de
amenização, humanização e liberalização.

Numa hora em que a sobrevivência das organizações depende de uma máxima competência de pessoal, a
chefia parece se preocupar mais com índices emocionais, tais como realização individual e harmonia
comunitária, conforto e felicidade.

De fato, a qualidade do trabalho parece subordinada à qualidade de vida e afazeres pouco atraentes podem ser postergados e reformulados para que menos ofendam a sensibilidade dos operadores.

Colaboradores incapazes de resolver qualquer problema ou de fazer qualquer esforço fora do comum são apreciados, pelo seu bom humor e seu alto grau de coleguismo.

O diretor de RH de uma grande companhia multinacional, no ramo de bens de capital, considera a liderança organizacional apoiada em 20% de ingredientes técnicos e 80% humanos.

Outro executivo de RH é convidado por uma empresa de telefonia para assumir a "gerência de emoções". Dentro de uma tal filosofia empresarial, as diretorias de RH devem sentir momentos de glória nunca imaginados.

Definindo todos os postulados daquela filosofia, teríamos a seguinte tabela:

(1) Antes de fazer qualquer observação sobre trabalhos feitos, verifique se ela não poderia ferir a sensibilidade de um ou outro funcionário. Neste caso, reformule seus comentários, ou os suprima de uma vez.

(2) Jamais defina claramente falhas descobertas no trabalho, nem critique abertamente os elementos incompetentes envolvidos, especialmente não na presença de outros. Em vez disso, chame os responsáveis e discuta os erros cometidos como se se tratassem de ocorrências normais apenas passíveis de alguma melhoria. Faça de tais reuniões algo como encontros entre amigos. Não introduza controles, apenas sugira métodos aperfeiçoados de trabalho.

(3) Na avaliação de desempenho, frise os pontos positivos e mencione os negativos apenas como detalhes merecedores de maior atenção.

(4) Siga o mais possível o princípio da igualdade, isto é, evite estabelecer e apoiar uma elite de profissionais mais competentes. Dê atenção e respeito iguais a todos os colaboradores.

(5) Diante da necessidade de efetuar promoções, valorize a habilidade de relacionamento humano acima da competência puramente profissional.

(6) Evite dar ordens. Discuta com todos os colaboradores a melhor maneira de resolver os problemas e chegue coletivamente a conclusões quanto à distribuição dos afazeres.

(7) Valorize a qualidade da vida acima da qualidade do trabalho. Quando um trabalho implica desconforto, procure reduzir as tarefas, mesmo incorrendo perda de tempo e lucratividade.

(8) Jamais sacrifique o bem estar humano à lucratividade empresarial. A sobrevivência é apenas um dos alvos da empresa; um outro de igual importância sendo a realização individual e a satisfação de cada um dos colaboradores.

A grande maioria das diretorias de RH aceitaria provavelmente a maioria daqueles postulados com entusiasmo. Entretanto, na verdade trata-se de um arsenal de venenos adoçados.

A missão da empresa é o serviço à comunidade através da produtividade. Dentro desse programa, a elevação de todo o pessoal a estados de euforia tem pouco relevo.

A empresa não deve imitar o ambiente de um hospital, nem de uma igreja, nem de um clube de recreação. A empresa é um organismo que precisa lutar arduamente para sobreviver.

Esta sobrevivência manifesta-se em termos de lucro. Este não é um luxo capitalista e sim o equivalente do oxigênio para o organismo vivo. Sem lucro não há continuidade, não há emprego. Qualquer funcionário deveria se dar conta desta regra antes de insistir em condições mais amenas do trabalho.

A felicidade do "homem da organização" ("organization man") consiste na realização perfeita do seu trabalho, na subsequente realização da sua carreira, e não em satisfações emocionais concomitantes. Estas podem adornar os processos produtivos, mas tendem mais a prejudicar do que a estimulá-los.

Nascem indivíduos menos destinados para TI do que para a pesca ou a música. Mas isto não quer dizer que o trabalho deve ser feito em ritmo de pesca, nem que a música ambiental deve ter o direito de interferir na concentração mental necessária para resolver problemas do trabalho.

O dever nem sempre pode ser agradável. A humanidade foi expulsa do paraíso e o culto da emoção não corrigirá o caminho da História.

A humanização do dever é uma obrigação indispensável da liderança.

Mas isto não é novidade. Immanuel Kant (1724-1804) disse que o ser humano jamais deve ser usado apenas como meio para um fim qualquer e sim sempre como fim em si. Isto quer dizer que, além de ser um empregado, o indivíduo deve ser visto como portador de alma e de personalidade, de ambições e aspirações, de sensibilidades, valores e vícios. Assim, Kant, sem jamais ter pisado numa empresa, definiu uma política perfeita de recursos humanos.

O tratamento dos funcionários em todos os níveis deve ser justo e realista. A maior satisfação do colaborador dedicado provém do reconhecimento do mérito, não de um banho geral no sol da benevolência indiscriminada.

A civilização ocidental é fria e massificante. Seria mais bonito se todo mundo pudesse ter mais margem de expressão e de atuação.

De outro lado, as grandes conquistas civilizatórias são resultado de disciplina, de sacrifícios e de submissão a objetivos comunitários. Seria difícil para o homem moderno renunciar aos benefícios do progresso tecnológico na medicina, na comunicação, nos transportes, etc.

É verdade que, por exageros e abusos, a humanidade torna muitos benefícios em males. Já Aristóteles reconhece o meio termo como medida virtuosa para todos os procedimentos.

De Aristóteles a Spinoza a Kant, o caminho da razão foi considerado a melhor opção da humanidade diante das confusões do coração e das catástrofes do Universo.

Descobriu-se agora o valor da emoção.

Perguntamos se isto é uma verdadeira revelação ou apenas a manifestação de uma geração moralmente confusa e politicamente decepcionada.

A.H. Fuerstenthal

Voltar


São Paulo, SP            ahf@ahfrh.com.br
© 1950-2013 A.H.Fuerstenthal Executive Search
Todos os direitos reservados.
Home   |   O que fazemos   |   Clientes   |   Cadastrar currículo   |   Fundador   |   Contato Desenvolvimento JSWeb